Avaliação Clínica da eficácia do ANESTÉSICO SSWHITE

MARZOLA,Clóvis *
CURY, Patricia **
LOBO, Sonja Ellen. ***

SINOPSE

Este trabalho teve como objetivo avaliar a eficácia do anestésico SSWHITE em manobras cirúrgicas odontológicas, assim como a ocorrência de reações adversas decorrentes da sua utilização. Foram incluídos na pesquisa 150 pacientes, sendo que a avaliação seguiu os seguintes padrões, idade do paciente, seu estado emocional antes da anestesia, medicação pré-anestésica, pressão arterial, tipo de cirurgia, técnica anestésica, tempos de indução e duração, volume anestésico e finalmente a opinião do paciente sobre a eficiência do anestésico. Os resultados mostraram que o anestésico SSWHITE foi eficiente na maioria dos procedimentos cirúrgicos (74,5%), o tempo de indução é satisfatório, e o tempo de duração é suficiente para realização das manobras cirúrgicas. Não se observou diminuição da eficácia em pacientes que receberam medicação pré-anestésica, nem um melhor efeito em pacientes calmos ou normotensos. Entre aqueles pacientes avaliados, nenhuma reação adversa foi observada. Concluíu-se que o anestésico SSWHITE encontra-se dentro dos padrões necessários para a realização das manobras cirúrgicas aqui relatadas, sendo um anestésico seguro e eficaz.

*Professor Titular de Cirurgia da Faculdade de Odontologia de Bauru da USP.
Membro Titular do Colégio Brasileiro de Cirurgia e Traumatologia Buco Maxilo Facial.
Membro da Academia Pierre Fauchard.
Life Fellow da International Association of Oral and Maxilofacial Surgeons.
Fellow do International College of Dentistry.
Professor Titular Convidado dos Cursos de Pós-Graduação em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial Faculdade de Odontologia da Puc de Porto Alegre (RS) e das Faculdades de Odontologia da UniversidadeEstadual e Federal de Recife (PE).
Professor "Honoris Causa" da UNIGRANRIO
Membro do grupo Italiano di Studi Implantari de Bolgna - Itália.
Membro Honarário do International Research Committee of Oral Implantology.
Membro Honorário da Academia Mineira de Odontologia.
Membro Honorário da Fundación de Investigación y Servicio Estomatológico "Oswaldo Chaves Jaramillo" do Equador.
Coordenador do curso de Especialização em CTBMF DA Funbeo da FOB-USP.

**Aluna do 4º ano de graduação do curso de Odontologia da FOB-USP.

***Aluna do Curso de Especialização de Longa Duração em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial da Faculdade de Odontologia de Bauru da USP e da Associação Hospitalar de Bauru (R2).

INTRODUÇÃO

"Quem dores padece, de nós tudo espera,
e é nossa experiência, mil vezes frustrante,
se a dor lancinante, rebelde, não zera,
e alívio não damos, nem mesmo , calmante,
Ao pobre vivente que sofre, excruciante,
Sem outra atitude podermos tomar,
Inermes, suas queixas só resta escutar..."
"Ilustres leitores, aqui, neste instante,
Tão bem irmanados na luta incessante
Da cura das dores do seu semelhante.
Possamos, em data não muito distante,
Num dia de festa, idêntica a esta,
Missão já cumprida, orgulha sem par,
Consciência Tranqüila, a frase exclamar:

TAREFA DIVINA, É A DOR DOMINAR..."*

 Um dos aspectos mais importantes na prática odontológica é o controle eliminação da dor (ROBERT & SOWRAY, 1995). O método mais amplamente usado na odontologia, para o controle da dor, é o bloqueio das vias de condução dos impulsos nervosos e para tanto , soluções anestésicas são utilizadas.

A área de ação do anestésico local, acredita-se ser na membrama do nervo. Segundo a explanação mais aceita sobre o mecanismo de ação, o anestésico local liga-se à um receptor específico na membrana nervosa, e assim a permeabilidade ao íon sódio diminuí sendo que a condução do impulso é interceptada (AYOUB et al. 1992).

A pesquisa de novos anestésicos tem sido estimulada, a fim de que os procedimentos odontológicos, principalmente na área de Cirurgia Buco-Maxilo-Facial, tornem-se o mais indolor e confortável possível.

 *Poema "ANESTESIA"do Prof. Dr. João Jorge de Barros, para o Prefácio do Livro "ANESTESIOLOGIA"da 2@ ed. da Ed. Pancast, do Prof. Dr. Clóvis Marzola.

O cloridrato de lidocaína e fenilefrina à 1:2.500, praticamente caiu em desuso no passado. Alegava-se que reações adversas eram freqüentes, porém na literatura há apenas um trabalho relatando três casos de hipertensão e cefaléia induzidas pelo novocol (SALATA & BARROS, 1992).

As reações alérgicas aos anestésicos locais são pouco comuns, sendo observada apenas em 1% dos casos (BENNET, 1986; MONHEIN & BENNET, 1989 e SILVA, 1995). Ainda, foi observado e analisado que as reações em pacientes que sofriam tratamentos odontológicos resultavam mais freqüentemente da ansiedade do que da toxicidade do anestésico (AYOUB, ET AL. 1992).

A lidocaína é um anestésico do grupo amida, com potência maior que a prilocaína, enquanto a fenilefrina é uma amina simpatomimética sintética, com razoável duração de ação devido à sua estabilidade. Sua seletividade aos receptores alfa é de 100%, no entanto pode causar bradicardia, devido à ação reflexa dos barorreceptores e do nervo vago. Cefaléia não é comumente observada, pois não afeta significamente o sistema nervoso central (KING, SOKOLOFF & WECHSLER, 1952; CHERASKIN & PRASERTSUNTARASAI, 1957, 1958 E 1959; kENNEDY et al. 1966; BOAKES et al. 1972; LILIENTHAL & REYNOLDS, 1975; COWAN, 1977; WEINER, 1980; GOLDSTEIN et al. 1982; CANSON, CURSON & WHITTINGTON, 1983; CHERNOW et al. 1983; DIONNE, GOLDSTEIN & WIRDZEKI, 1984; MONHEIN & BENNET, 1989; SMITH, 1991; AYOUB et al. 1992 E ZAMBRONO, 1995).

Na concentração de 1:2500 de fenilefrina, a dose total é limitada a 4 mg o que significa 10 ml desta solução. Em cardiopatas a dose máxima deve ser de 1,6 mg (KEESLING & HINDS, 1963; GANGOROSA & HALIK, 1967; EPSTEIN, 1969; JASTAK & YAGIELA, 1983; MEYER, 1986 e HERSH, 1993).

Assim sendo, no que diz respeito ao controle ou eliminação da dor, este estudo tem como objetivo avaliar clinicamente a eficácia do NOVOCOL em procedimentos cirúrgicos odontológicos, assim como a ocorrência de reações adversas.

MATERIAIS E MÉTODOS

Foram incluídos na pesquisa 150 pacientes, de idade entre 9 e 71 anos, de ambos os sexos. A presença de comprometimentos médicos não controlados foi o critério para a exclusão de determinados pacientes, que foram atendidos na Clínica Ambulatorial do Curso de Especialização em Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial da FOB-USP.

Os pacientes requeriam cirurgias tais como exodontias simples, exodontias de retidos, exéreses de cistos, biópsias, cirurgias pré-protéticas, além de cirurgias de determinadas complicacões decorrentes de alguns procedimentos cirúrgicos bucais, tais como remoção de raízes residuais, fraturas de rebordos alveolares, alveolites, etc.

Para a obtenção dos dados necessários, foi utilizada a seguinte ficha clínica-anestésica

FICHA DE ANESTESIOLOGIA

Anestésico utilizado
Nome do paciente
Idade do paciente
Pressão arterial
Estado emocional antes da anestesia
Medicação pré-anestésica
Tipo de cirurgia
Técnica anestésica
Tempo de indução
Tempo de duração
Número de tubetes
Opinião do paciente sobre a eficiência da anestesiaOBS: A idade considerada para cada paciente foi aquela completada no último aniversário, em numeros inteiros. Foi avaliado se o paciente era normotenso, hipotenso ou hipertenso, de acordo com as fórmulas
:


O paciente também foi indagado sobre o seu estado emocional, antes da anestesia, sendo as respostas em pacientes calmos e tensos, já que estas foram as respostas mais comuns.

A medicação pré-anestésica foi considerada presente quando o paciente havia sido previamente medicado com analgésicos, antiinflamatórios e antibióticos, associados ou não.

Quanto à opinião do paciente sobre se o anestésico foi eficaz considerou-se quando não houve dor no transcirúrgico.

As técnicas anestésicas e cirúrgicas seguidas foram as descritas por MARZOLA (1992), sendo para tal a amostragem total dividida em três grupos anestesias terminais infiltrativas, bloqueios regionais, e associações de ambas as técnicas.

Quanto ao tipo de cirurgia, os procedimentos avaliados foram exodontias simples, exodontias de retidos, exéreses de cistos, biópsias, cirurgias pré-protéticas e outras de determinadas complicações já enunciadas.

Foi calculado o tempo de indução como sendo o tempo compreendido entre o ínicio da injeção do anestésico e o início da perda de sensibilidade.

O tempo de duração foi avaliado como sendo o tempo entre o início da perda de sensibilidade e o retorno da mesma.

Os dados foram processados utilizando-se o programa Excel 5.0. Para a análise estatística utilizou-se teste de associação e análise de variância. Foi adotado p>0,05 para o nível de significância.

 

RESULTADOS

Os resultados estão expressos nas tabelas abaixo

Tabela I - Avaliação da eficácia do anestésico segundo o sexo
  Sexo Números de Pacientes Eficácia   Tubetes Tempo de Indução (seg.) Tempo de Duração (min.)
Feminino 105  78% 2,95 26,38 175,82
Masculino 45 71% 3,09 74,07 147,50

Tabela II - Avaliação da eficácia do anestésico segundo a técnica anestésica
Técnica Números de Pacientes Eficácia Tubetes Tempo de Indução (seg.) Tempo de Duração (min.)
Ambas 106 80% 2,95 75,78 178,75
Bloqueio 27 66% 2,48 60,33 153,11
Terminal 17 82% 2,12 54,52 112,00

Tabela III - Avaliação da eficácia do anestésico segundo o tipo de cirurgia
Tipo Números de Pacientes Eficácia Tubetes Tempo de Indução (seg.) Tempo de Duração (min.)
Biópsias 2 100,00% 0,00   7,66   51,00
Ecistos 3    0,00% 7,66 47,33 ------
Complicações 4 75,00% 3,25 81,25 ------
Pré-protética 11 81,80% 2,45 62,73 133,33
E.simples 14 71,40% 1,93 81,00   41,00
E.retidos 116 80,20% 2,80 70,58 187,29

Tabela IV - Avaliação da eficácia do anestésico segundo a pressão arterial
Pressão Arterial Números de Pacientes Eficácia Tubetes Tempo de Indução (seg.) Tempo de Duração (min.)
Alta 6 50,00% 2,83 57,50 ------
Baixa 14 85,70% 2,64 63,29 90,50
Normal 130 78,50% 2,79 71,99 167,97

Tabela V - Avaliação da eficácia do anestésico segundo a presença de medicação pré-anestésica
Medicação Números de Pacientes Eficácia Tubetes Tempo de Indução (seg.) Tempo de Duração (min.)
Ausente 130 78,50% 2,77 70,45 170,06
Presente 120 75,00% 2,80 71,50 131,00

Tabela VI - Avaliação da eficácia do anestésico segundo o estado emocional do paciente
Estado Emocional Números de Pacientes Eficácia Tubetes Tempo de Indução (seg.) Tempo de Duração (min.)
Calmos 94 81,90% 2,73 74,37 149,77
Tensos 56 71,40% 2,84 64,25 194,50

Em relação à opinião do paciente, o anestésico foi eficiente em 74,5% deles, ou seja, os pacientes não se queixaram de dor no transcirúrgico. Em 25,5% dos casos o anestésico foi considerado ineficiente, isto é, houve relato de dor. Todos os pacientes foram alertados sobre a diferença entre a sensação de dor e pressão.

Quanto ao sexo, as diferenças na eficiência e no tempo de indução e duração não foram consideradas estaticamente significantes. A média de tubetes para o sexo masculino foi de 3,09 por procedimento cirúrgico, e para o feminino foi de 2,64.

As diferenças da eficiência do anestésico também não foram consideradas significantes estaticamente quanto a técnica anestésica, pressão arterial,, presença de medicação pré-anestésica e estado emocional do paciente.

Na avaliação da eficiência do anestésico segundo o tipo de cirurgia, as diferenças foram consideradas significantes (p<0,05). O
anestésico SSWHITE foi mais eficiente nas exodontias de retidos do que na exérese de cistos. Porém a validade desse resultado é considerada questionável porque entre os dois grupos onde a diferença da eficácia foi considerada significante há um diferente número de pacientes avaliados: 116 pacientes no grupo das exodontias de retidos e apenas 03 pacientes no grupo de exérese de cistos. O volume de anestésico variou bastante, para as exodontias de retidos, uma média de 2,8 tubetes foi utilizada sendo que para a exérese de cistos, 7.66 tubetes.

DISCUSSÃO

A análise dos resultados obtidos permite constatar que o anestésico foi considerado bastante eficaz na maioria dos procedimentos cirúrgicos , não tendo sido notado quaisquer problemas relacionados com cefaléia ou hipertensão, como constatado por SALATA & BARROS (1992), apesar do discreto número de casos avaliados (03).
Pela tabela II observa-se que tanto para as anestesias terminais infiltrativas, quanto para os bloqueios regionais e associação de ambas as técnicas, parece que houve eficácia do anestésico. Nota-se, também, que a média de tubetes foi praticamente a mesma para as diferentes técnicas anestésicas e que os tempos de indução são pequenos (as diferenças entre esses tempos não foram consideradas estaticamente significantes), o que parece propiciar um "menor" tempo operatório total, pois se a injeção for lenta, 1 ml por minuto, ao final da anestesia já haverá perda de sensibilidade e a cirurgia poderá ser perfeitamente iniciada. Muito embora haver sido notado que a administração intravascular ou mesmo um aumento involuntário da velocidade e pressão de injeção, tal como ocorre nas anestesias peridentais, possa parecer alguns fatores que venham a favorecer a absorção sistêmica da fenilefrina em taxas mais elevadas (LILIENTHAL & REYNOLDS, 1975).
A tabela III pode parecer sugerir a ineficiência do anestésico para a exérese de cistos, porém com apenas três casos clínicos nenhuma conclusão segura poderia ser aventada, mesmo porque nessas três exéreses ocorreu a exposição do feixe vásculo nervoso do nervo alveolar inferior e/ou mentoniano, pela grande extensão da cirurgia do cisto. Entretanto, para os demais procedimentos cirúrgicos o efeito do anestésico foi considerado bastante satisfatório.A eficiência do anestésico foi satisfatória em uma média de 71,4% dos pacientes normotensos, hipotensos e hipertensos, contrariando os dados de SALATA & BARROS (1992). Não houve diferença significante da eficiência nestes três grupos. Todos os pacientes hipertensos estavam com pressão arterial controlada por medicamentos.
Observa-se pela tabela V que a presença de medicação pré-anestésica não aumentou significamente a eficiência do anestésico, podendo contudo, ser dado talvez muito importante, para ser discutido em próximas investigações.Pode-se constatar que o estado emocional do paciente não alterou significantemente a eficiência da solução anestésica, apesar de ter-se conhecimento de que em pacientes nervosos ou estressados a absorção do anestésico poderá ocorrer mais rapidamente (DIONNE, GOLDSTEIN & WIRDZED, 1984 e MEYER, 1986).Na anamnese os pacientes foram questionados quanto à hipersensibilidade anterior a determinados anestésicos. Dentre os pacientes atendidos no período de 1,5 anos nesta clínica, apenas um relatou ser alérgico a algumas soluções anestésicas. Este paciente foi submetido a teste alérgico, que apontou ser o mesmo hipersensível não só ao anestésico SSWHITE, como também a muitos outros anestésicos, sendo que apenas a Scandicaíne poderia ser utilizada . Pode-se, desta maneira, estabelecer-se um alerta quanto a esse problema, como já vem preconizado ultimamente (SILVA, 1995).Durante todos os procedimentos cirúrgicos os pacientes foram observados quanto à ocorrência de reações adversas ao anestésico, não se detectando qualquer alteração.
A presença de muito tecido adiposo é uma varíavel que não foi considerada, pois sua mensuração não poderia ser feita por métodos simples de observação visual, ou consideração apenas sobre o peso e altura do paciente. No entanto se a técnica for bem conduzida e aqui pode-se considerar que foi, os cirurgiões eram residentes ou especializandos em cirurgia, e portanto tinham domínio da técnica anestésica, a solução deverá ser depositada muito próxima ao nervo, sendo sua condução nervosa bloqueada, diminuindo assim, o efeito dessa variável.

CONCLUSÕES

Pelos resultados obtidos parece lícito concluir que:

  1. O tempo médio de duração da anestesia para todos os pacientes foi de 163,89 minutos, que é suficiente para realização dos procedimentos cirúrgicos mais comuns.
  2. O tempo de indução também foi bastante satisfatório.
  3. A média de tubetes necessária para uma cirurgia esteve dentro da dosagem máxima de anestésico indicado, tanto para pacientes saudáveis como aqueles cardíacos.
  4. Quanto às reações adversas, não foi constatada nenhuma dentre aqueles 150 pacientes aqui observados.
  5. Os resultados mostram que o anestésico SSWHITE encontra-se dentro de padrões bastante aceitáveis para a realização das manobras cirúrgicas.

Entretanto, mais importante que o anestésico utilizado é sua correta indução além da perfeita realização da técnica anestésica.